Protocolo DNS: Traduzindo Nomes em IPs

Redes de Computadores Thiago Rossi
Tempo de leitura: 8 minutos

Protocolo DNS: Traduzindo Nomes em IPs: Em nossos artigos anteriores, mergulhamos no mundo do Endereçamento IP, aprendendo que cada dispositivo conectado a uma rede IP possui um endereço IP único (IPv4 ou IPv6) para ser identificado e localizado. Vimos como os roteadores utilizam esses endereços IP para direcionar os pacotes de dados através da vasta interconexão de redes que compõe a Internet.

No entanto, para nós, seres humanos, lembrar e usar sequências numéricas como 172.217.28.14 (um dos IPs do Google) ou 2606:4700::6810:85e6 é extremamente difícil e impraticável. Preferimos usar nomes que fazem sentido para nós, como google.com, youtube.com ou wikipedia.org. Mas como o seu computador, que precisa do endereço IP para se conectar, sabe o endereço IP correspondente a um nome de domínio?

A resposta está no Protocolo DNS (Domain Name System – Sistema de Nomes de Domínio). O DNS é um serviço essencial na Camada de Aplicação que atua como o “tradutor” ou a “lista telefônica” da Internet, convertendo nomes de domínio legíveis por humanos em endereços IP numéricos legíveis por máquinas.

Este artigo tem como objetivo desmistificar o Protocolo DNS. Vamos explicar por que ele é indispensável, como funciona sua estrutura hierárquica e distribuída, quais tipos de servidores DNS estão envolvidos no processo de tradução e como uma consulta DNS típica é realizada. Compreender o DNS é fundamental para entender o funcionamento básico da Internet e para diagnosticar problemas de conectividade.

A Necessidade do DNS: Nomes Para Humanos, IPs Para Máquinas

Protocolo DNS: Traduzindo Nomes em IPs: Os computadores e roteadores usam endereços IP para rotear pacotes eficientemente na Camada de Rede/Internet. O sistema de endereçamento IP é estruturado para facilitar o roteamento baseado na porção de rede do endereço. No entanto, para os usuários, nomes são muito mais amigáveis e fáceis de memorizar do que longas sequências de números (especialmente com o IPv6).

Imagine se você tivesse que digitar o endereço IP toda vez que quisesse visitar um site! Seria impossível lembrar de todos. O DNS resolve esse problema fornecendo uma camada de abstração: você usa o nome de domínio (como google.com), e o DNS se encarrega de encontrar o endereço IP correspondente para você.

O Protocolo DNS opera na Camada de Aplicação do Modelo TCP/IP. Ele utiliza primariamente o Protocolo UDP na porta 53 para consultas e respostas (para velocidade, já que a maioria das consultas é pequena e requer uma resposta rápida) e o Protocolo TCP na porta 53 para tarefas maiores, como a transferência de zonas (replicação de bancos de dados DNS entre servidores autoritativos) e para respostas que excedem o tamanho máximo de um datagrama UDP.

A Estrutura Hierárquica e Distribuída do DNS

Protocolo DNS: Traduzindo Nomes em IPs: O DNS é construído sobre uma estrutura hierárquica que se assemelha a uma árvore invertida. Essa estrutura permite que a responsabilidade por gerenciar nomes seja distribuída globalmente, tornando o sistema escalável e resiliente.

  • Raiz (Root): No topo da hierarquia está a Raiz, representada por um ponto (.). A Raiz é gerenciada por um conjunto de 13 clusters de servidores lógicos conhecidos como Servidores de Nome Raiz (Root Name Servers), distribuídos estrategicamente pelo mundo. Eles não conhecem os IPs de todos os sites do mundo, mas sabem onde encontrar os servidores responsáveis pelos domínios de nível superior.
  • TLDs (Top-Level Domains – Domínios de Nível Superior): Diretamente abaixo da Raiz estão os TLDs. Existem dois tipos principais:
    • gTLDs (generic TLDs): Domínios genéricos, como .com (comercial), .org (organizações), .net (redes), .gov (governo), .edu (educação).
    • ccTLDs (country code TLDs): Domínios de código de país, como .br (Brasil), .uk (Reino Unido), .ca (Canadá). Cada TLD é gerenciado por um conjunto de Servidores de Nome TLD (TLD Name Servers). Eles sabem quais servidores autoritativos são responsáveis por cada domínio registrado sob seu TLD (por exemplo, o servidor TLD .com sabe quem é o servidor autoritativo para google.com).
  • Domínios de Segundo Nível (Second-Level Domains): São os nomes que as pessoas e organizações registram, como “google” (em google.com), “wikipedia” (em wikipedia.org), “seu-negocio” (em seu-negocio.com.br). A responsabilidade por gerenciar esses domínios é dos Servidores de Nome Autoritativos.
  • Subdomínios (Subdomains) e Hostnames: Abaixo dos domínios de segundo nível, o proprietário do domínio pode criar subdomínios (como “www” em www.google.com, “mail” em mail.google.com). O nome completo de um dispositivo em um domínio (incluindo todos os subdomínios e o TLD) é chamado de FQDN (Fully Qualified Domain Name), por exemplo, www.google.com..

Essa hierarquia permite que a carga de gerenciar bilhões de nomes de domínio seja distribuída entre milhares de servidores ao redor do mundo.

Componentes do DNS: Quem Faz a Tradução?

Vários tipos de servidores trabalham juntos para realizar a tradução de nomes para IPs:

  • Resolvedor (Resolver) / Cliente DNS: É o software que roda no seu computador, smartphone ou outro dispositivo. Ele é o “cliente” no processo DNS e inicia a consulta para obter o IP de um nome de domínio. Ele geralmente envia a consulta para um Servidor DNS Recursivo configurado.
  • Servidor DNS Recursivo (Recursive DNS Server): Também conhecido como resolvedor recursivo ou simplesmente “servidor DNS” (como o que seu ISP fornece ou serviços públicos como 8.8.8.8 do Google, 1.1.1.1 da Cloudflare). Este servidor aceita a consulta do cliente e assume a tarefa de encontrar a resposta. Ele faz as consultas sequenciais (iterativas) aos servidores de nome raiz, TLD e autoritativos em nome do cliente, até obter a resposta final, e então a retorna ao cliente. Ele também armazena em cache (cache DNS) as respostas para consultas futuras, agilizando o processo.
  • Servidores de Nome Raiz (Root Name Servers): Os servidores que conhecem os endereços dos servidores TLD. Eles respondem a consultas apontando para o servidor TLD apropriado.
  • Servidores de Nome TLD (TLD Name Servers): Servidores que sabem quais servidores autoritativos gerenciam domínios de segundo nível específicos sob seu TLD. Eles respondem apontando para os servidores autoritativos.
  • Servidores de Nome Autoritativos (Authoritative Name Servers): São os servidores que contêm os registros DNS oficiais para um domínio específico (como google.com). Eles são a fonte final da verdade para os nomes dentro de sua zona. Eles respondem à consulta com o endereço IP exato (ou outro registro) para o nome solicitado.

O Processo de Consulta DNS: Encontrando o IP

Protocolo DNS: Traduzindo Nomes em IPs: Vamos seguir o caminho de uma consulta DNS típica quando você digita www.exemplo.com em seu navegador, assumindo que o IP não está no cache do seu computador ou do seu servidor DNS recursivo:

  1. Seu computador (Resolvedor) envia uma consulta para o seu Servidor DNS Recursivo configurado: “Qual é o endereço IP para www.exemplo.com?”.
  2. O Servidor Recursivo verifica seu cache: Se o IP para www.exemplo.com estiver no cache, ele retorna a resposta imediatamente. Se não, ele inicia o processo de resolução.
  3. O Servidor Recursivo consulta um Servidor de Nome Raiz: “Você conhece o IP de www.exemplo.com?”.
  4. O Servidor Raiz responde: “Eu não conheço o IP de www.exemplo.com, mas eu conheço os Servidores TLD responsáveis por .com. Aqui estão os endereços deles.” (É uma resposta iterativa, ele aponta para o próximo servidor).
  5. O Servidor Recursivo consulta um Servidor TLD de .com: “Você conhece o IP de www.exemplo.com?”.
  6. O Servidor TLD de .com responde: “Eu não conheço o IP de www.exemplo.com, mas eu conheço os Servidores Autoritativos responsáveis por exemplo.com. Aqui estão os endereços deles.” (Outra resposta iterativa).
  7. O Servidor Recursivo consulta um Servidor Autoritativo para exemplo.com: “Você conhece o IP de www.exemplo.com?”.
  8. O Servidor Autoritativo para exemplo.com responde: “Sim, o endereço IP para www.exemplo.com é 93.184.216.34 (ou um endereço IPv6).” (A resposta definitiva).
  9. O Servidor Recursivo armazena a resposta em cache (por um tempo definido pelo TTL – Time To Live) e a envia de volta para o seu computador (Resolvedor).
  10. Seu computador (Resolvedor) recebe o endereço IP (93.184.216.34) e agora pode usar esse IP para estabelecer uma conexão direta com o servidor web que hospeda www.exemplo.com (geralmente via HTTP/S sobre TCP).

Este processo completo leva apenas alguns milissegundos e acontece toda vez que você acessa um nome de domínio pela primeira vez (ou após o cache expirar).

Tipos Comuns de Registros DNS

Os Servidores de Nome Autoritativos armazenam diferentes tipos de informações (registros) para um domínio. Alguns dos tipos de registros mais comuns incluem:

  • Registro A: Mapeia um nome de host (como www) para um endereço IPv4.
  • Registro AAAA (Quad-A): Mapeia um nome de host para um endereço IPv6.
  • Registro CNAME (Canonical Name): Cria um alias, mapeando um nome de host para outro nome de host (em vez de um IP). Por exemplo, ftp.exemplo.com pode ser um CNAME que aponta para www.exemplo.com.
  • Registro MX (Mail Exchanger): Especifica os servidores de email responsáveis por receber email para um domínio.
  • Registro NS (Name Server): Lista os servidores autoritativos para um domínio específico, indicando onde encontrar as informações DNS desse domínio.
  • Registro PTR (Pointer): Usado para DNS Reverso, mapeando um endereço IP para um nome de host.

A Importância Vital do DNS

O Protocolo DNS é um dos serviços mais críticos e invisíveis da Internet. Sua importância reside em:

  • Usabilidade: Torna a Internet acessível e fácil de usar, permitindo que as pessoas usem nomes significativos em vez de números complexos.
  • Flexibilidade: Permite que os endereços IP de serviços de rede mudem (por exemplo, se um servidor for movido ou substituído) sem que os usuários precisem mudar os nomes que utilizam. Basta atualizar o registro DNS no servidor autoritativo.
  • Escalabilidade: A estrutura hierárquica distribui a carga de gerenciamento de nomes globalmente.
  • Resiliência e Balanceamento de Carga: Pode ser configurado para fornecer múltiplos endereços IP para um único nome (distribuindo o tráfego) ou direcionar usuários para o servidor mais próximo ou disponível.
  • Fundamental para Todos os Serviços: Praticamente todos os serviços da Internet (web, email, VoIP, jogos, etc.) dependem do DNS para funcionar usando nomes de domínio.

Conclusão

Protocolo DNS: Traduzindo Nomes em IPs: O Protocolo DNS é o tradutor invisível que torna a Internet amigável para os usuários. Ele é o sistema hierárquico e distribuído que mapeia nomes de domínio legíveis por humanos para os endereços IP numéricos que os computadores precisam para rotear dados. Exploramos sua estrutura (Raiz, TLDs, Domínios de Segundo Nível), os diferentes tipos de servidores envolvidos (Resolvedores, Recursivos, Raiz, TLD, Autoritativos) e o processo de consulta que acontece bilhões de vezes por dia.

Compreender o DNS e seu funcionamento é fundamental para qualquer pessoa que interaja com a Internet e, crucially, para profissionais de infraestrutura que precisam configurar, gerenciar e solucionar problemas de conectividade. Problemas de DNS são uma causa comum de falhas de rede, onde o site não carrega simplesmente porque o computador não consegue encontrar o endereço IP correspondente ao nome digitado.

Esperamos que este artigo tenha desvendado o funcionamento do Protocolo DNS e destacado sua importância vital para a usabilidade e operação da Internet. Ele é a ponte entre os nomes que usamos e os números que os pacotes seguem. Com este conhecimento, você está pronto para explorar outros protocolos da Camada de Aplicação e entender como todos esses componentes trabalham juntos para criar a vasta e funcional rede de computadores que usamos diariamente. Continue aprendendo e traduzindo seu caminho para se tornar um especialista em redes de computadores!

Se você está iniciando sua jornada no universo da computação, desenvolva uma base sólida com nossos artigos sobre Hardware. Caso você já domine tudo sobre Hardware, entenda como um SO funciona. Mas se tem conhecimento sobre os principais conceitos sobre Sistemas Operacionais, pode ir ainda mais além: se aprofundar no sistema operacional do pinguim e se preparar para as certificações de entrada do universo Linux!!!

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Author: Thiago Rossi
Eng. de Computação com quase 20 anos de experiência na área de TI, onde desde meu primeiro estágio atuo no setor. Iniciei como técnico de montagem e manutenção de computadores, evoluindo para a área de desenvolvimento Web e Analista de Sistemas e atualmente com foco em Redes e Cibersegurança. Resolvi compilar todo meu conhecimento na área de T.I para te entregar artigos que são verdadeiras jóias que te orientarão para que você também se torne um profissional nessa área e consiga mudar sua vida graças à T.I!